quarta-feira, 2 de maio de 2012

NARA, A SUICIDA( HISTÓRIAS DE TIA NEIVA)

Este texto faz parte da publicação "Pequenas Histórias- sob os olhos da Clarividente-2". Salve Deus.


O dia era de intenso trabalho como de costume no Vale do Amanhecer.
A Clarividente Neiva fazia uma pausa aparente mas suas atividades. Conversava com suas filhas em torno de problemas de costura da oficina do Vale. Enquanto falava de panos e cortes sua mente ativa resolvia outros problemas. A cada momento mensageiros de outro plano chegava e se entendia com ela. A gente só notava o fato pela maneira que ela movia as sobrancelhas  ou interrompia o que estava falando.
Daí a poucos segundos ela se virava e invariavelmente perguntava: " O que eu estava mesmo dizendo?".
Com o tempo a gente se acostuma com isso e reserva o assunto para outra oportunidade. As vezes acontece dela se transportar por momentos e a gente tem a impressão que ela dormiu com os olhos abertos.
Outras ela faz gestos com as mãos ou fala alguma coisa em voz alta. Quando isso acontece a gente procura disfarçar e finge que não viu. Mas na maioria das vezes ela se desculpa e torna a perguntar sobre o que estava falando...
Outra coisa que também nós estamos acostumados é com o segredo. É muito rara a ocasião que ela diz alguma coisa do que está vendo ou falando. Talvez não seja tanto pela secretividade da coisa mas sim por desinteresse. Neiva lida com vida de milhares de pessoas e a gente acaba por ser desinteressar pleos enredos complicados mas, comuns.Só o amor incondicional desperta e mentém um interesse permanente. E esse amor só ela possui, só ela mantém com uma constância que chega a nos deixar acanhados de nós mesmos.E levantou uma peça de pano para melhor exame e seus olhos de clarividente depararam com a figura de uma jovem mulher que se aproximou com desenvoltura.
" Salve Deus!"- disse Neiva, " De onde você vem?"
" Sm, Tia Neiva. Eu estou aproveitando mais uma oportunidade que e foi proporcionada por Mãe Tildes e cheguei ate a senhora para me esclarecer mais. Talvez a melhor forma de fazer isto seja contar-lhe a minha história. Conheci Mãe Tildes em meio as minhas andanças aloucadas que fiz depois que desencarnei".  foi contado a sua história triste:
" Eu andava feita louca e cheia de dor. Na verdade minha dor era tão grande que Deus na sua bondade permitiu-m caminhar na solidão sem ser atingida pelos bandidos do espaço, apesar da minha revolta e descrença. A única coisa que me sustentava ra o respeito que me devotavam devido o amor do meu marido.
Neiva sorriu compadecida e pediu-lhe que contasse a sua história desde o princípio. Enquanto isso ela diligentemente discutia com sua filha Carmem Lúcia detalhes das capas dos Mestres que estavam sendo confeccionadas na oficina. E a moça começou:" Meu nome é Nara. Eu estava com dezoito anos quando conheci Tomaz um rapaz de vinte anos. Estávamos numa festinha em casa de uma família nas vizinhanças de minha casa. A dona de casa chamava-se Alice e eu gostava muito dela. Não sei se foi o ambiente agradável , ou se influència da noite chuvosa lá fora, mas o fato é que eu e Tomaz nos apaixonamos à primeira vista. Ficamos sentados olhando um para o outro e tocando de leve com as mãos. Enquanto isto, todo mundo dançava e se divertia. Foi uma noite maravilhosa e a partir daí no nosso namoro não foi mais interrompido até o casamento. Nosso noivado durou dois anos e foi na mais perfeita felicidade. três meses depois de casados fiquei grávida e isso foi recebido por nós com muita alegra. A primeira preocupação de Tomaz foi dar a notícia para sua mãe que morava no Sul. Ele era o único filho e ela sonhava em ter um neto. Em poucas semanas ela e Tomaz fizeram todos os arranjos para ela vir morar conosco. os primeiros dias tudo foi novidade e alegria. Tomaz estava eufórico com a perspectiva de nosso filho e ao mesmo tempo senti-ase alegre com a presença da mãe. 
Mas, esta situação agradável durou pouco. Eu não sabia naquele tempo mas tanto a criança que estava em meu ventre como a minha sogra eram meus cobradores espirituais. No princípio eram pequenos ciúmes. Palavras ásperas e pequenas brigas. Eu logo revidei e as coisas pegaram fogo. Nossa vida virou de uma hora para a outra da tranquilidade para o inferno. Eu passei a atacar minha sogra com violência e, ninguém entendia mais nada. 
No terceiro mês de minha gravidez eu abortei. Senti-me mal, fui levada para o pronto socorro e quando voltei me sentia um trapo. Deitei-me em nossa cama de casal e minha sogra desandou a falar caluniosamente. Com as feições alteradas pelo odio e a voz gritante ela disse, entre outras coisas:
" Foi você que provocou este aborto! Vocês sua desavergonhada! Você que tem sido a desgraça do meu filho!
Neste preciso omento, Tomaz assomou na soleira da porta e eu n instante percebi a tragédia inevitável. Meio tonta coma zoeira que minha sogra fazia eu tentei levantar-me e implorei com os olhos o auxílio de Tomaz. Mas, qual não foi a minha surpresa! Suas feições transtornaram e seus olhos pareciam sair fora das órbitas. " Ouvi o que minha mãe disse" gritou ele. "Então você abortou, matou nosso filho! Jamais a perdoarei!" E avançou possesso em direção à cama. Eu gritei assustada e vi quando ele apanhou um punhal ornamental que estava sobre a cômoda e avançou sobre mim!
Minha sogra assustada segurou-lhe os braços e eu sentei-me na cama enfrentando seu olhar de fera. Não, não é possível, pensei. Uma pessoa não se transforma assim de repente. Não podia acreditar que o homem a quem dedicava toda a minha existência pudesse agir daquela maneira. Dei um grito de dor e desespero e procurei enfrentá-lo. Ele refreou um pouco o seu gesto e a cena acabou tão depressa como começou. Foi como se um furação tivesse passado naquele quarto e na minha vida. Algo fora destruído. A partir daí entramos naquela terrível situação de solidão a dois.
Esperei durante dois anos que aparecesse outro filho mas isso não aconteceu. Quando Tomaz estava ausente eu sentia saudade dele, quando ele chegava eu me sentia distante dele.A minha solidão começou a se tornar insuportável. Tomaz então começou a beber e quando voltava para casa parecia uma fera. Eu tinha certeza que ele procurava outras mulheres e meus ci´mes se tornou como um espinho em meu coração.
Certa noite Tomaz não voltou para casa e o desespero tomou conta de mim. Imaginava as coisas que ele deveria estar fazendo, e, minha angústia aumentava a cada hora que passava. De repente não resisti mais e procurando na cozinha encontrei uma lata de venenos para ratos e ingeri!
Foi horrível! Comecei a me contorcer com dores terríveis, com a garganta queimando como se fosse de fogo. A impressão que tinha era de que meu corpo fosse sair pela boca. E assim fiquei me retorcendo em agonia, gemendo e chorando por longo tempo. Estava só em casa e ninguém me socorria. Ao mesmo tempo eu sentia que entrava numa espécie de transe para adormecer.
Comecei a despertar lentamente e me sentia envolvida por uma espécie de massa tênue e lilás. Ouvia gritos e gemidos enão sabia se eram meus ou de outras pessoas. Continuava sentindo dores, porém ela eram pouco destacadas de mim, como se eu estivesse longe do meu corpo. A primeira sensação que tive foi de vergonha do que tinha feito.
Perdi a noção do tempo e não sei permaneci neste estado. Só sei que as razões de meu gesto começaram a se apresentar e por mais que tentasse justificar sentia que a culpa era só minha. Lembrava-me de minha sogre e de Tomaz. Comecei a sentir que eu é que havia provocado aquela situação com a pobre mulher. Se eu tivesse tido mais paciência talvez não tinha perdido meu filho. Tinha sido egoísta o tempo todo e só agora me dava conta disso!
Às vezes ficava em dúvida e me perguntava se o ciúme tinha sido meu ou dela. Isso me perturbava mais ainda e minha agonia era muito grande. Já percebia que havia morrido,mas assim mesmo pensava em voltar. Mas a lembrança da dor que passara tirava esse pensamento da cabeça. Não, não teria coragem de voltar para aquela terrível experiência.
Subitamente fui despertada por uma voz que ressoava no ambiente que dizia: " Espíritos suicidas, preparem-se para voltar "Terra!"
Fiquei mais animada e esperançosa. Sim, voltar à Terra, encontrar Tomaz, pedir-lhe perdão por tudo o que fizera. Pedir perdão à minha sogra, começar tudo de novo!
_ Meus pensamentos ainda estavam muito embraçados e eu me esquecia que era um simples espírito, sem corpo, desencarnado!
A voz do Guia Universal continuou o sermão e a névoa lilás começou a clarear a ponto de começar a enxergar em torno. Vi então que estava num bem cuidado gramado pontilhado de margaridas e lírios brancos. Comecei a me movimentar, e meu pensamento era um só: ir para perto de Tomaz, pedir-lhe perdão pelos meus atos. Por fim cheguei a uma grande plataforma que dava a ideia de uma rodoviária ou de um aeroporto. O local estava de gente e de vozes. Acima dos rumores das pessoas ouvia-se a voz do Guia Universal como se saísse de grandes alto falantes. Nisto veio ao meu encontro um índio muito bonito com alvas penas de adorno e, não sei como sabia que ele chamava Pena Branca. Ele foi me conduzindo pela mão.E me vi diante de duas bocas de túneis uma próxima da outra . Eu vacilava em qual das duas entrar. Pena Branca havia sumido e eu sabia que tinha que tomar uma decisão. Tudo continuava envolto naquela névoa lilás e minah indecisão aumentava a cada momento. às vezes ficava lúcida e no momento seguinte não sabia o que estava fazendo. Se num momento eu estava vendo e ouvindo, no momento seguinte eu nada via, como num pesadelo. De repente senti uma mão que segurava na minha e dei um grito! Tomaz, o meu querido Tomaz! Mas eu não o via apenas o ouvia.
" estou aqui meu amor, venha, venha comigo; não me deixe, não me solte! O que está acontecendo?"
Uma luz se fez na minha mente: Ele me ama!"
Mas de repente tudo escureceu. Meu Deus, o que fizera eu?!- tudo continuou a escurecer e senti minha mão se escorregando da mão de Tomaz. Quis segurar mais forte mas não conseguia. O outro túnel começou a me atrair e eu fui levada para ele. Ouvi voz de todo o tipo e até mesmo idiomas de outras línguas que eu parecia entender. Meu desespero por ter largado Tomaz e o conhecimento da verdade do que eu fizera cortava-me o coração. Por que Tomaz me largou se ele ainda me amava? 
Despertei na Terra, respirei e senti que estava consciente. Minha dor era muito grande mas meu arrependimento de tudo o que havia feito era maior. Tinha consciência de haver perdido minha alma gêmea naquela escuridão na boca dos túneis e lamantava-me da sorte triste.
Não pude permanecer muito tempo naquela cogitação porqie os bandidos do Espaço logo começaram a me persiguir. Corri de um lado para outro procurando proteção. Cheguei até a casa de minha sogra, porém a vi mal dizendo tanto a mim, que me deu medo e tive que me afastar. Ela me atribuía toda a desgraça que havia acontecido!
Perambulei pelo Rio de Janeiro indecisa. Apenas uma idia me surgia na cabeça de vez em quando: Brasília. Não sei se era influência do meu Mentor ou se era uma lembrança do tempo de Tomaz que falava muito em Brasília. Estava ainda nessa indecisão, quando vi uma jovem que havia conhecido e que morava em Brasília. lembrei-me direitinho do seu nome: Jeni! 
Afeiçoei-me a ela e passei a acompanhá-la aonde quer que el fosse. Não sei se passou um dia ou mais, mas, subitamente eu me vi numa bonita casa na beira de uma grande lagoa de águas limpas. Nessa casa havia algumas pessoas que falavam muito em Espiritismo. Continuei companhando Jeni e ela acabou por ir a um grande Templo.
Meio receosa eu a segui e ela se dirigiu para o fundo do templo e parou diante da linda estátua de um  índio. Ele tinha um penacho dourado e tão grande que tomava metade do tamanho da parede de fundo!
Estava assim pertinho de Geni e trêmula de medo quando senti que alguém me passava a mão na cabeça. No mesmo instante senti alívio de uma dor que sentia desde o meu suicídio. Com o alívio da dor, passei a ter mais coerência da minha percepção. Comecei a prestar atenção aos movimentos no Templo. Foi quando ouvi uma voz dizendo:"Mário, a Tia Neiva está chegando!" e a pessoa chamada, Mário, respondeu:" Edgard, pergunte a ela se vai haver Indução." Vi então quando a Tia chegou perto de Mário e me viu. A senhora então estendeu a mão e me disse:" Venha, filha".
Depois a senhora chamou Edgard: " Edgard chama a Rosa e o Josias para fazer uma passagem". Fui então levada para perto deles e recebi a Doutrina. Comecei a me sentir mais leve e percebi quando Pai João de Aruanda, o Preto Velho de Rosa, me encaminhou a uma Cassandra que me levou para o Canal Vermelho.
"Agora Tia Neiva eu voltei para saber notícias de Tomaz. Tenho que pedir perdão a ele pois minha consciência não me dá sossego, principalmente que soube que ele morreu também naquela noite. "Nara, minha filha". Respondeu Neiva. " Um dia você terá que voltar, mas, não é tão fácil o reencontro com a alma gêmea. Você cometeu muitos desatinos e terá que reajustar por isso. Muitas vezes nós pensamos que estamos sendo feridos e somos n´so que estamos ferindo com nosso amor próprio. Isso se dá devido a nossa incompreensão, nosso egoísmo que é a pior arma que voltamos contra nós mesmos. Temos a obrigação de analisar as coisas pois em tudo existe uma razão, um propósito. Não devemos nos queixar tanto do nosso próximo, do nosso vizinho. Com a falta de tolerância nós fazemos os nossos inimigos."
Nara ouviu em silêncio e se aprontou para partir. " Salve Deus, Tia Neiva" disse ela, " Agradeça por mim ao Mestre Mário Kioshi,ao Mestre Edgard, Josias , Rosa e os outros que me ajudaram. Também quero agradecer ao pai João que me levou para o Canal vermelho".
" Pois é, minha filha, em breve eu saberei onde está Tomáz e a mãe dele e, vou mandar notícias a você no Canal Vermelho."
"Não, Tia Neiva, só preciso encontrar Tómaz, a mãe dele está viva e mora no Rio de Janeiro".
 Não minha filha, sua sogra já morreu e está junto ao filho. Não se esqueça que você passou sete anos aqui na Terra... Olha Nara naquele dia que você encontrou a sua benfeitora Jeni,les estavam perto ajudando a você".
"Como?!" Eles estavam lá? E como não os vi?
" Você não os viu porque eles estavam em outro plano, embora estivessem bem juntos a você! Vai minha filha, vai para o Canal Vermelho e de lá você será encaminhada para outros planos. Neste mundo você nada tem mais a pagar. Você já pagou muito com seu amor e agora com seu arrependimento. Vai e que Deus a acompanhe."
Com carinho, 
A Mãe em Cristo.
Tia Neiva.

3 comentários:

  1. Salve Deus! Essa pequena história de Nara é muito interessante, faz com que a gente repense muitas coisas...

    ResponderExcluir
  2. Salve Deus! Essa pequena história de Nara é muito interessante, faz com que a gente repense muitas coisas...

    ResponderExcluir
  3. Muito interessante essa história! Nós faz pensar mais em nossas atitudes erradas, e na nosua intolerância com o próximo! Agradecida pela história!

    ResponderExcluir