Há alguns séculos atrás
existia um rico cavaleiro possuidor de um grande castelo que ficava sobre uma
linda colina. Este cavaleiro possuía muitas riquezas, muitos cavalo, escravos,
um esposa fiel e filhos. Tinha robustos conhecimentos adquiridos em exaustivos
estudos e nas longas e cruéis batalhas em terras longíquas e exóticas. Porém,
era homem dado a poucas palavras, de semblante severo e poucos amigos. Ao
retornar de uma guerra sangrenta e sem vencedores, abatido pelo cansaço e
feridas, soube que em suas terras habitava um homem de extraordinário poder e
conhecimento, a quem todos consultavam nos momentos de necessidade e a quem
acorriam nas horas de aflição.
O nobre cavaleiro ficou
ofendido por ser a autoridade máxima do feudo, pelo seu conhecimento invejável
e por a distinção, coragem e nobreza, achava que devia ser o orientador, o
condutor e mesmo conselheiro de toda aquela gente.
E, assim, cheio de curiosidade
viajou muitas léguas para encontrar tão poderoso forasteiro.
Pelo caminho o imaginava:
“Devia ser mais novo, pelo menos de 5 a 10 anos do que ele, ser mais forte.
Devia ser mais instruído, talvez, qum sabe, até nos Institutos do Oriente.
Podia ser um alquimista com poder sobre os elementos ou um mago conhecedor dos
segredos da vida e da morte. Por tais atributos certamente era rico com seu
castelo, seis cavalos, suas joias e sua numerosa família.” E assim pensando,
viajou muitas léguas.
Buscava com os olhos algum
sinal de aproximação com o homem famoso e nada encontrava. Apenas sabia estar
no caminho certo porque filas e grupos de pessoas também se dirigiam em busca
dele e seguiam a mesma direção.
De repente, vislumbrou uma
fila na frente e que se perdia na floresta e perguntou ao último colocado se
ali morava o homem que resolvia todos os problemas de todos. E diante da
resposta positiva, sem descer do garboso cavalo que montava foi se dirigia para
o início da fila, uma vez que sua posição social e seu título de nobreza lhe
autorizava ser o atendido primeiro.
Enquanto passava por aqueles
que pacientemente esperavam para falar com o poderoso homem, via gente de todo
o tipo, de todos os lugares, de todas as idades.
E assim, chegou na frente da
fila e não quis esperar. Insistentemente bateu à porta afim de solicitar atendimento rápido, uma vez
que faria apenas três perguntas ao Poderoso sábio para ter certeza dessa
condição e se tais perguntas não fossem respondidas, decretaria a morte do
enganador em praça pública- num lindo dia de sol- e assumiu como de fato devia
ser, a condução daquele povo que vivia nos arredores do seu castelo.
O cavaleiro tinha certeza que
o homem era um farsante, vivia num casebre em ruínas, sozinho, pelo que soube,
não tinha sequer um cavalo velho e manco, não possuía gemas nem ouro enfim-
nada tinha, nada era.
E assim, bateu por longo
período até que de repente a porta
abriu-se e um ancião surgiu e com
sua mão descarnada ordenou a entrada do nobre que foi convidado a sentar-se num
tosco banco de madeira.
_ Então, que problemas lhe
traz aqui em minha humilde casa?- Fale em nome de Deus.
E o nobre disse: _ Tenho ouro
e tenho prata, tenho coragem e saúde, tenho brasão e medalhas, família,
escravos e amigos, mas, sinto que algo me falta: o conhecimento e a fama que gozas
e que lhe traz tanto sucesso e estima.
O velho ouviu sem nada
demonstrar e pediu, novamente que o nobre falasse que problemas queria
aconselhamento.
O nobre mal intencionado
ruminava a inveja e a cólera ao perceber o rumor do povo lá fora e sabia que se
dominasse aquela turba poderia até mesmo iniciar uma revolução e tomar a coroa
do rei, deixando de ser nobre cavaleiro e passando a ser o Rei daquela Corte.
Tenho três problemas que me
assolam o espírito e me tiram o sono e a fome. Se eu soubesse a resposta eu
dominaria o mundo: o primeiro, eu gostaria de saber a distância exata em metros
centímetros e milímetros entre meu castelo e a casa de minha mãe que vive a 1
ano de distância e a quem não vejo desde a minha mocidade; o segundo porque
nascemos, crescemos e organizamos nossa vida e temos nossos filhos: serão os
filhos prêmios ou castigos? E a terceira, é porque um homem como você, que nem
roupa tem no corpo é tão respeitado e admirado por todos, uma vez que nada mais
tem a oferecer aos necessitados do que consultas sobre assuntos comuns,
enquanto outros como eu, que ofereço ajuda em ouro e prata, dou trabalho e
abrigo, além de segurança não sou reconhecido pelos demais com tanto fervor.
O velho olhou para o homem e muito sério disse:_ A
resposta para as três questões é apenas uma palavra: “AMOR”.
_ COMO?- Perguntou o
cavaleiro.
_ A distância entre o seu
castelo e a casa de vossa mãe é a medida do amor que tens por ela. Se tiver
muito amor, será apenas alguns centímetros e se não tiver são quilômetros
instransponíveis. Quanto ao fato do homem ter filhos e se condenar a uma vida
de preocupações ao invés de uma vida de prazeres é o amor, o amor por si mesmo,
por querer ter quem os suceda neste mundo, alguns, depois passam a amar os
filhos e transferem para eles o amor próprio e egoísta que sentiam por si
mesmos, nesta caso, os filhos não são condenações,e, sim, um prêmio divino de
perpetuação. Se não for assim, os filhos serão condenação e dificuldades. E a
terceira que agradeço por se relacionar à minha pessoa também o amor, nada mais
dobra este povo do que o amor. O amor desinteressado, de se preocupar com cada
um que aqui vem em busca de ajuda e pelo amor que eu preencho a minha falta de
conhecimento sobre números, fatos e Ciência; pois tudo o que se resolve com
aparelhos, mecanismo, riqueza e poder, se resolve muito bem com amor. O ouro e a
prata são ajudas passageiras mas, palavras de amor são tesouros inesquecíveis,
que jamais são esquecidas. A hospitalidade, a segurança, a oferta de trabalho
são frágeis diante da ingratidão humana. Mas, o amor grava o coração de quem o
recebe e não se apaga jamais. Nada detém o ser humano em suas maldades e
crueldades; nada diminui o sofrimento e a dor de quem sofre; nada neste mundo
supre a fome, a saudade e o abandono a não ser o amor: uma palavra de amor ecoa
pra sempre na lembrança de quem a ouviu em um momento de aflição ou de solidão.
Quem conseguir entender e praticar esta Verdade dominará o mundo!
_ E porque não o fazes? Por
que não dominas o mundo?
_ Mas, estás enganado, senhor:
eu domino o mundo!
Desconcertado, o cavaleiro
saiu dali pensando, tentando, inutilmente assimilar tudo o que tinha ouvido.
30/05/2014- Pai Benedito
de Aruanda.
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