Muitas vezes durante o desencarne de uma pessoa é comum ouvirmos lamentações, tais como " Que pena que se foi, era tão boa!" "Deus o quis perto de si!"; nunca ouvimos alguém dizer: " Morreu tarde!". Isto nos faz pensar que só os bons morrem! Pensei bastante sobre isto e escrevo a minha opinião sobre o motivo de acharmos que "só os bons morrem..."
Uma mulher que foi vizinha há muito tempo, desencarnou. Era uma mulher intratável de uns sessenta e poucos anos. Na nossa rua todos ficaram aliviados, acabava-se o problema de mais da metade dos moradores.
O marido, que vivia mais fora de casa do que dentro porque não aguentava maisos "maus bofes" da esposa, segundo dizem exclamou, tão logo soube do falecimento: "Graças a Deus! Acabou o meu sofrimento!"; os filhos, constantemente agredidos e humilhados, não mais seriam suas vítimas. Tão pereversa, esta infeliz mulher, que não soube amar matou dezesseis gatos da vizinha da esquerda, envenenando-os e sempre que podia (quase todos os dias jogava na minha porta, ora lixo, ora uma àgua fedorenta que jamais identifiquei. Aliás, esta mulher jogava lixo para todo o lado jamais se importando com a higiene e o perigo que esta prática trazia para todos os moradores. Ninguém reclamava com medo dos xingatórios e escândalos que ela fazia.
Na única padaria do bairro sempre se desentendia com a vendedora por causa do troco, e sempre ficava muito alterada quando não recebia o troco certinho, não podendo faltar nenhum centavo, embora dificilmente trouxesse a quantia certa para a compra, sempre faltando uns centavos, porém, a vendedora jamais lhe negou a mercadoria! Ouvia, altas horas da noite, música em altíssimo volume e diante da reclamação da vizinha da direita de que o barulho incomodava o marido que estava se recuperando de um infarto, além de ter xingado avizinha e todos os nomes, ainda passou a ouvir a música em volume ainda mais alto.
O certo, meus amados, é que a mulher é o que o povo chama de "peste",Salve Deus, e, nós, missionários de Simiromba chamamos de obesessora, apresentou um quadro cancerígeno na região ginecológica, que fulminante, mingou-lhe em apenas dois meses, numa fria tarde do mês de maio; Pensou-se que em seu velório ninguém iria, uma vez que nada fazia para o próximo, não tinha o hábito da simpatia nem da amizade. Porém, por causa do marido, homem simples e muito educado e dos filhos, que todos viram nascer e crescer debaixo de "coro", cada vizinho, por um motivo, nem que fosse para ter certeza que a tal estava realmente "mortinha", um a um foram chegando.
Como acontece nestas horas, levaram café, leite quente, chocolate e muito biscoitinho para a passagem da noite; eassim, como é comum, comenta-se o comportamento do que está sendo velado. No início da conversa somente fatos ruins foram lembrados, os atos tristes e infelizes que cometia. Porém, aos poucos a conversa foi mudando de rumo e um ou outro lembrou como ela ficava vermelha quando com raiva. Outro lembrou da cara esquisita que ela fazia para xingar ( cara de cotia, segundo o vizinho); lembraram, também, da voz fina que fazia na padaria para gritar mais alto que estava sendo roubada, da forma que latia igualzinho um cachorro quando durante uma discussão queria dizer que a outro estava igual cachorro " latindo sem morder"
_ E os gatos. quem garante que foi ela, pode etr sido qualquer um- afirmou alguém.
Passado um quarto de hora começaram a relembrar algumas poucas ações boas que recordaram; no fim, muitos estavam tristes e comovidos. Afinal, eram vizinhos há mais de vinte anos! Começaram a vida todos juntos naquele bairro, quandonão tinha calçamento, nem àgua, nem iluminação pública...se ajudando mutuamente, filhos nascendo e crescendo...
De repente, dona Emerenciana, a dona Ana, falou:
_Coitada, era tão boa, não merecia este fim!
Muitas cabeças balançaram em concordância.
E fizeram um oração sincera para aquela boa alma que se ia.
Meus amados(as), temos o costume de dizer que " Deus chama cedo os bons", ou "que só os bons morrem", etc. Isto acontece porque o ser humano esquece os males que sofreu, por ter saído de Deus, foi feito para perdoar. è comum para o ser humano não guardar mágoa, pois sempre é possível entender o "porque" do outro nos ter feito sofrer, pois, certamente, no interior do agressor há sempre um motivo que ele considera justo e certo. Perdoar é uma virtude e não se trata de fazer papel de bobo ou "trouxa", gostar de ser pisado; trata-se de, através do perdão, exercitar o amor incondicional que se assemelha ao Amor Divino.
Esta verdade acontece muito frequentemente entre pais e filhos, maridos es esposas, irmãos de sangue, em situações que por mais mal que façam uns aos outros, são sempre perdoados. Basta somente agir da mesma forma com todos os semelhantes!
Aquele que, ainda a morte, injuria, calunia, julga e condena é um sofredor, um espírito atrofiado, que não sabe que o perdão é a forma mais eficaz de se aproximar do Divino Mestre que nas suas ultimas horas perdoou a todos os que o levaram à morte!
Irmãos, por causa desta semente de Bondade Divina, falaremos sempre, ainda que diante dos restos mortais do pior dos piores: " Só os bons morrem!"
Salve Deus, Graças a Deus!
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