quarta-feira, 10 de junho de 2015

Eliete- Sob os olhos da Clarividente,

 Salve Deus, Que esta história que nos contou Tia Neiva possa ter acesso em seu coração.



 
Eliete chegou ao Vale do Amanhecer numa garupa de uma "Honda", de 350 cilindradas, e com um barulho ensurdecedor. Calça rancheira, cabelos mal cuidados e blusa decotada. Trazia no rosto jovem a marca da velhice precoce. Na dureza dos olhos guardava a indiferença gerada pelo uso de narcóticos e, na face , a marca das intempéries. Foi recebida com o mesmo carinho dedicado ao pseudo" hippies" e de pronto se tornou parte integrante do nosso cotidiano. Sempre com um mesmo sorriso de indiferença e sempre cortês, jamais reclamou ou fez qualquer ato que a tornasse menos simpática. Produzia, porém, em todos nós um sentimento de tristeza e abandono. Estar perto de Eliete era como estar próximo de um abismo, de coisas sem fim, nem princípio.
Nascera no Rio de Janeiro, de um casal jovem e feliz. Antes dela o casal tivera um menino. A menina, loira e bonita era como um ornamento na vivência daquele casal, tipicamente carioca, de padrão econômico relativamente estável e vida descuidada e superficial.
Trabalho, amigos, praia e o carro do último ano eram as preocupações maiores. Eliete cresceu, assim, descuidada, sem maiores problemas, alimentada em seu incipiente intelecto pelas histórias em quadrinhos, a escolaridade fácil e a preocupação em manter-se nas ondas jovens das praias cariocas. Nenhum cuidado tirava o bom-humor constante da família.
No Plano Astral, porém, os mentores se movimentavam em torno daquela família. A vida despreocupada os levaria ao estacionamento, à estagnação espiritual, e, ao não cumprimento de suas obrigações espirituais. Eliente tinha a missão de trazer àquela família a mão de Deus. Como missionária, fora escolhida para sacudir a situação aparentemente estável, e teve início, então, o mau gosto na vida deles. Delegacias, hospitais, escândalos e toda gama de dores trazidas pela existência do submundo entraram pela porta adentro daquele lar.
Aos 14 anos, Eliete começou a trazer os primeiros problemas: por seu intermédio, o passado transcendental começou sua cobrança naquele lar despreparado para coisas mais sérias.
Eliete conheceu Félix, rapaz estróina, e filho único de uma viúva neurótica. De pronto Félix iniciou-a no mundo dos sonhos e das drogas. O Plano espiritual começou, assim, a exercer sua ação catalizadora na faixa cármica familiar. Félix a preparava "espiritualmente' para as "viagens" onde "pintavam" os quadros fantásticos.
O lazer constantes e a ausência de problemas econômicos lhes permitiam o luxo das "pesquisas" místicas alternadas com pesquisas eróticas e Eliete tornou-se "sacerdotisa" do vício e do absurdo, e rapidamente o seu comportamento começou a atingir a tranquilidade do casal.
Pouco afeitos às lutas psicológicas sem nenhuma preocupação com o mundo do Espírito, sem religião ou qualquer forma coibidora o conflito se instalou rapidamente. Sem saber procurar a solução para o problema de Eliete, seus pais preocuparam-se antes na manutenção do seu "status" de devaneio e despreocupação. A própria Eliete achou a solução: foi morar na companhia de Fèlix e sua mãe, passando viver cotidianamente num mundo de depravação repugnante. Nesse ínterim, a vida de seus pais entrou em franca decomposição. Embora se amassem, não tinham tolerância e nem competência para conviver com problemas mais sérios. Acabaram por se desquitar.
O clímax da faixa cármica trouxe um princípio de solução: Félix "dopado" subiu sub- repticiamente, na carroçaria de um caminhão carregado de madeira, dormiu e caiu com o carro em velocidade, morrendo no asfalto.
Eliete havia vivido três anos de depravação e licenciosidade, e sem a companhia de Félix ficou desnorteada e foi viver com o pai. Ambos, porém, não se toleraram muito tempo e ela passou para a companhia de mãe, onde o quadro também se repetiu
. Sem saber o que fazer com Eliete enviaram-na para a Inglaterra, onde foi viver em companhia dos "hippies", durante dois anos...
saturada de tudo voltou ao Brasil e passou a perambular pelas estradas em companhia de outros jovens nas mesmas condições. Seus "habitats" eram as praias, as "caves" e os locais de iniciações misteriosas. Com isso Eliete adquiriu um conhecimento deformado do mundo espiritual e mediúnico.
Com o cérebro tomado pelas drogas, desenvolveu um mediunidade angustiada. Vivia perturbada pelos sonhos fantásticos e pela inquietação angustiosa.
Sua incerta peregrinação a trouxe para o Vale do Amanhecer em companhia dos pseudo-"hippies". A viagem na garupa de uma motocicleta foi o começo de sua redenção.
No vale ela encontrou o amor e a compreensão, a aceitação natural, a ausência da crítica e a vivência em meio ao trabalho mediúnico intenso levaram-na a encontrar uma razão para viver.
Desenvolveu sua mediunidade, entrou em contato espiritual com seus mentores, abandonou as drogas e, em pouco tempo transformou-se numa moça boa e saudável. Daí, para o caminho Crístico de amor, da tolerância e da humildade foi um passo.
Eliete é hoje uma iniciada. Voltou para o Rio mas não quis a companhia dos pais. Arrumou um emprego de balconista e vive a vida tranquila de quem sabe o próprio destino.
É, Neiva, uma história interessante. Só que não entendi uma coisa: geralmente os jovens que nos aparecem têm sua desgraça debitada aos traumas na família, pais fracassados, mães desajustadas e coisas assim. Eliete, porém, nasceu num lar feliz no qual havia amor,  um padrão de vida e uma posição na sociedade. Como você explica isso ?
_ Ausência de um preparo espiritual, M[ario, falta de profundidade vivencial. Não esqueça que estamos habituados a enfrentar os problemas dos que nos procuram quando existe uma crise, uma eclosão de conflitos. Em nossa preocupação de amainar a angústia em nossa função de socorristas, não nos preocupamos em julgar, analisar e, com isso não vamos às raízes sócias, nem isso é de nossa competência. Nossa função não é controlar a sociedade mas, apenas, dar amparo aos que nos procuram.
Mas o caso de Eliete é o mesmo de molhares de jovens nos quais as funções do lar são apenas de abrigo e proteção. O lar moderno tornou-se apenas isso, é lógico, com as múltiplas e benéficas exceções. É por isto que afirmamos ser a família o maior lugar do reajuste, onde os espíritos se encontram para cobrar e pagar suas dívidas espirituais e cármicas.
A felicidade do lar tornou-se um padrão abstrato, uma espécie de  representação generalizada.
Imagine, Mário, um grupo de atores teatrais que fossem obrigados a viver seus papéis 24 horas por dia, andar na rua e em todos os lugares com suas caracterizações, e você terá uma ideia do homem moderno. Papéis e mais papéis. No escritório ele é o chefe, na rua ele é o transeunte, no volante do carro ele é o motorista, no clube ele é o desportista e em casa ele é o chefe de família.
Na verdade estes papéis escondem seres angustiados, irresolvidos, despersonalizados.. O homem moderno vive a angústia da incerteza e da ausência de resposta para as interrogações básicas: " de onde vem? Para onde vai?"
_ Neiva, já discutimos isso antes. Vimos que o Mediunismo seria uma solução mas o simples fato de se falar em Mediunismo já parece fanatismo, superstição. Qual seria a mensagem que iria levar um pouco de lenitivo para tantos milhões de seres humanos? Como poderíamos atingir essas almas sofredoras?
Mário, Mário! Não se preocupe tanto com isso. Lembre-se que existe uma perfeita coordenadora nos Planos Espirituais e Deus prevê a todos as criaturas sua oportunidade. Descrevi acima um quadro de superficialidade na vida humana. Mas o Homem que está sob a máscara do ator, tem um Espírito transcendental a animar sua alma e a exigir o cumprimento das tarefas cármicas. O próprio caso de Eliete ilustra o que digo. Chegado o momento as Leis Divinas entraram em ação e o casal foi jogado no cumprimento de suas faixas cármicas, Eliete serviu como instrumento, entre a vida que eles levavam, sem dor, sem sofrimento e no sofrimento atual, eles irão encontrar o caminho de suas realizações espirituais.
_ Mas, Neiva- objetei- será que só pelo sofrimento as criaturas encontram o caminho da realização espiritual?
_ Não, Mário, não pelo sofrimento, mas sim pela dor...
Novamente é preciso que você se lembre da diferença entre uma coisa e outra. Por exemplo, nós aqui no Vale do Amanhecer padecemos muita dor, não é verdade? Mas você acha que nós sofremos?
~´E, pensando bem é isso mesmo. Eu não me julgo um sofredor e vejo poucos se queixarem aqui dentro. Entretanto, vivemos mergulhados na dor, seja dos outros, sejam as nossas. É, isso é muito bacana.
_ Mário, há outro ângulo pelo qual esse problema precisa ser examinado, que é o da realização, na faixa da personalidade. Muitas vezes o excesso de realização , muita estabilidade e segurança social leva o Espírito ao estacionamento, a interromper sua trajetória transcendental. Isso é verdadeiro até no plano físico. O ser excessivamente perfeito, animalizado, só consegue emitir na horizontal do plano físico e só recebe alimentação desse plano. Para que a pessoa se espiritualize, receba as inspirações do Céu, é necessário um certo equilíbrio entre a vida física e a espiritual. È por isso que os jejuns foram preconizados em épocas de maior religiosidade. Também na vida social, um certo "jejum" é aconselhável...
pág. 145/149     



 

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