quarta-feira, 20 de julho de 2011

E a Preta Velha falou...È o teu coração, fio....

O Mestre precisava chegar cedo ao Templo, queria trabalhar o dia todo para receber os bônus necessários para conseguir algumas bênçãos que estava necessitado, tudo na sua vida ia de mal a pior, em casa não estava se dando bem com a esposa, que vivia reclamando do seu humor, ms, também porque ela não entendia que ele tinha muitas preocupações, o único filho não o obedecia e sempre precisava dar uns bons tablefes no moleque ( para educar); no trabalho, os colegas sempre paravam de falar quando ele chegava e se dispersavam, mostrando que ele não era bem vindo, mas, o que ele contava para o patrão era pro bem da empresa e o patrão ficava muito contente quando ele contava algum deslize dos companheiros. Chegou na cozinha e ficou irritado ao ver que a mulher nem tinha feito o café, "preguiçosa"! Foi ao quarto e a mulher dormindo a sono solto foi acordada pelas sacudidelas do marido: "Ei, deixa de corpo mole, preciso tomar café!" Mas a mulher reclamou de mal estar e disse que não aguentava levantar da cama. O Mestre mais irritado ainda saiu de casa batendo a porta e foi para o Templo " lá tomaria o café-pensou." Com a confusão o filho acordou chorando e levou uma bronca do pai.
O Mestre ligou o carro e saiu de casa, em alta velocidade.Ia pensando na chefia que pretendia pegar na empresa. Trabalharia bastante no Vale do amanhecer, poderia, quem saber até pagar uma pensão alimentícia e se separar! Assim pensando, quase bateu em outro carro e não teve dúvidas, xingou o motorista com vontade.
Ao chegar ao templo cruzou logo na entrada com outro mestre, um camarada que ele não suportava, virou a cara para não baixar a sintonia e desarmonizar. Logo foi na frente de Pai Seta Branca e pediu proteção para si, pediu ajuda para conseguir o cargo de chefia, lembrando ao Pai que os outros candidatos não eram jaguares: um era católico e o outro evangélico. E arrematou pedindo ao Simiromba que intercedesse por ele junto a Jesus, pois aquele dia trabalharia para si, para obter a graça que necessitava.
Lá pelas tantas, trabalhando no trono, resolveu antes de encerrar, conversar com a Preta Velha e pedir uma proteçãozinha extra.        
  _Vovó, posso falar com a senhora?- perguntou.
  _ Pode fazê faladô, fio!
  _Quero sim. sabe a vida está muito difícil. Tenho uma mulher muito difícil e um filho desobediente, má influência da mãe, sabe como é... no trabalho, também, não me dou com os colegas, que me chamam de puxa saco do patrão, mas eu só falo pro patrão pro bem da empresa, mas os invejosos...  todos, só querem me derrubar...Faço tudo para ser um bom homem mas, meus cobradores só me arrumam dificuldades!
_Coitado do fio! E o quê veio buscá hoje fio...
_ah, vó, eu vim buscar paz, harmonia e sucesso no trabalho, espero que a senhora me ajude, sabe, estou querendo ser chefe...
 _ O fio sabe sê chefe...
O mestre não soube responder. Não tinha pensado nisto.
 _ É... fio, só leva alguma coisa desta casa quem traz alguma coisa prá esta Casa. Aqui quem tem mais, mais será dado... E olhando para o Mestre continuou_ O piò, fio, é quando sai sem nada levá e ainda deixa o que veio buscá!
O mestre não estava entendendo bem o que a Preta Velha estava falando, mas, a Velhinha continuou:
  _ Fio, ocê começa o trabaiadô quando vem prá esta casa. alimenta, se limpa, óia a roupa de trabaio,
  _É, sim, senhora!
 _Pois quando vem fazê trabaiadô põe o que no coração
 _Ah, sim; trago o amor, a tolerância e a humildade. Quer dizer, posso ser o que for lá fora, mas, quando chego aqui procuro ficar cheio de amor incondicional e só quero fazer o bem. Quando encontro alguém que eu não gosto, dou o desprezo, sabe, para não me desarmonizar.
  _Salve Deu, fio. Mas ocê não tem conseguido recebê o que tá precisado...
  O mestre balancou a cabeça afirmando esta verdade.
  _ Fio, ocê tá usando bornal furado: perde no caminho o que vem trazendo, dispois inda perde na saída o qui veio buscá...
  _ mas, vovó, não estou entendendo, eu não uso embornal!
 A vovó com muita calma, mas, muita calma apontou para o peito do mestre e disse:
  _ É seu coração, fio! È o seu coração! 

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